Educação garante maior empregabilidade? Diferenças entre gerações e o efeito da crise pandémica
A expectativa de que níveis de estudos superiores estejam associados a uma maior empregabilidade, é um dos maiores incentivos para prosseguir os estudos.
Será que esta vantagem se verifica atualmente e se mantém perante o aumento do número de jovens que detêm um grau do ensino superior?
QUANTO MAIOR O NÍVEL DE EDUCAÇÃO, MAIOR A PROBABILIDADE DE ESTAR EMPREGADO
Esta vantagem verifica-se anualmente e tem permanecido relativamente constante ao longo do tempo. Em 2019, por exemplo, a taxa de emprego dos diplomados (25-64 anos) do ensino superior foi de 88,6%, um valor superior aos que tinham o ensino secundário (84,8%). Para o grupo dos menos escolarizados, o valor não passava os 70,3%. O hiato de empregabilidade é, portanto, mais pronunciado entre os que apenas terminam o ensino básico e os mais escolarizados.
As mulheres apresentam sempre taxas de emprego menores quando comparadas com a dos homens com a mesma educação, mas os ganhos em termos de emprego associados a maiores níveis de educação são mais evidentes para o sexo feminino. Em 2019, a vantagem das mulheres em concluir o ensino secundário face ao ensino básico era superior à dos homens, em cerca de 10 pontos percentuais (20 pontos para mulheres e 9,6 para homens). Já o hiato da vantagem do ensino superior face ao secundário não chegava a 2,3 pontos (5,1 para mulheres e 2,8 para homens).
Taxa de emprego dos adultos por nível de escolaridade e sexo
FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN1
...E MENOR A PROBABILIDADE DE ESTAR DESEMPREGADO
Importa também analisar a taxa de desemprego que remete diretamente para situações involuntárias de afastamento do mercado de trabalho. Também neste caso, há vantagens associadas a níveis de educação mais elevados quando considerada a população dos 25 até aos 64 anos. No entanto, estas diferenças têm vindo a esbater-se nos últimos anos, no seguimento da queda generalizada do desemprego depois do pico verificado em 2013.
Para qualquer um dos níveis de educação analisados, a taxa de desemprego dos adultos mais velhos – 35 a 64 anos de idade – é sempre mais baixa do que a taxa de desemprego registada para os jovens adultos (25 a 34 anos de idade). De facto, a maior diferença, em 2019, entre as faixas etárias referidas, ocorreu nos indivíduos com ensino superior: diferença de 3 pontos percentuais entre as taxas de desemprego dos jovens adultos (5,9%) e dos adultos mais velhos (3,9%).
Taxa de desemprego dos adultos por nível de escolaridade e faixa etária
FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN2
Nos anos mais recentes, o ensino superior continua a oferecer uma maior proteção a situações de desemprego comparativamente aos níveis de ensino menos qualificados. Em 2019, a taxa de desemprego (25-64 anos) para quem completou o ensino básico, secundário e superior foi 6,4%, 5,8% e 4,8%, respetivamente. Estas diferenças devem-se sobretudo às mulheres, já que as taxas de desemprego dos homens com diferentes níveis de ensino têm-se vindo a aproximar.
AS VANTAGENS DA MAIOR ESCOLARIDADE SÃO MENOS EVIDENTES ENTRE OS MAIS JOVENS, SOBRETUDO NOS HOMENS
Para a população entre os 25 e os 34 anos, ter o ensino secundário ou superior não se traduz em grandes diferenças na probabilidade de estar empregado. Em 2019, na dianteira continua a estar quem completa o ensino superior, mas a diferença face a quem termina o ensino secundário não chegava a 1 ponto percentual. Entre os menos escolarizados que não terminam o ensino secundário, menos de 80% está empregado.
A recuperação económica na última década favoreceu o emprego de todos os níveis de educação, mas de forma mais consistente os grupos mais escolarizados, incluindo o ensino secundário. Estas tendências são influenciadas principalmente pelo emprego das mulheres jovens, que evidenciam uma maior vantagem relativa em obter níveis de educação mais elevados. Nos homens, tem-se verificado uma convergência das taxas de emprego dos diferentes níveis de educação. Em 2019, independentemente do nível de educação, cerca de 85% dos homens entre os 25 e os 34 anos estavam empregados, com uma vantagem muito ligeira para os que completam o ensino secundário. Já para as mulheres, compensa estudar mais pois a taxa de emprego é superior em 14 pontos quando comparados os ensinos secundário e básico e de 1,7 pontos quando comparados os ensinos superior e secundário.
Taxa de emprego dos jovens adultos por nível de escolaridade e sexo
FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN1
É também entre os jovens dos 25 aos 34 anos que a educação parece conferir uma menor proteção ao desemprego. Em 2019, a taxa de desemprego deste grupo etário com escolaridade secundária é inferior comparada com a de quem completou o ensino superior, muito por força dos homens. No caso do sexo masculino, até quem não passou do ensino básico tem taxas de desemprego menores do que quem completou o ensino superior, com a diferença a atingir 1 ponto. Para o sexo feminino, concluir pelo menos o ensino secundário tem resultado em taxas de desemprego substancialmente mais baixas.
Assim, as vantagens associadas à obtenção de mais educação tornaram-se menos evidentes entre os homens.
Taxa de desemprego dos jovens adultos por nível de escolaridade e sexo
FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN1
MAIS EDUCAÇÃO PROTEGE OS JOVENS EM TEMPOS DE CRISE
O último ano veio relembrar que mais educação parece fornecer maior proteção aos jovens em situações de crise económica, uma tendência que se verificou também em crises anteriores, mesmo que de diferentes naturezas.
As taxas de emprego dos jovens desceram significativamente em 2020 para todos os níveis de educação, mas o impacto parece ter sido mais sentido nos níveis mais baixos de educação.
Mais uma vez, é sobretudo no caso das mulheres que os maiores níveis de escolaridade têm o efeito mais vincado. O emprego entre as diplomadas manteve-se praticamente inalterado, enquanto nos níveis mais baixos houve uma clara descida. No caso dos homens, as quebras das taxas de emprego são mais homogéneas entre os diferentes níveis de escolaridade.
O crescimento das taxas de desemprego entre os mais jovens foi significativamente menor para os diplomados do ensino superior, muito à custa do sexo feminino. Para os homens, mesmo entre os diplomados, o desemprego cresceu 2,7 pontos face a 2019, resultando numa taxa de desemprego em linha ou até superior a níveis de escolaridade mais baixos.
1ADULTOS DOS 25 AOS 64 ANOS. VER AQUI ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFORMAÇÃO SOBRE OS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE.
2VER AQUI ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFORMAÇÃO SOBRE OS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE.
Este insight faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” que pode consultado na íntegra aqui.