COVID-19: os perfis mais e menos vulneráveis à crise no mercado de trabalho
A magnitude do impacto do Covid-19 no emprego e desemprego está relacionado com fatores como a idade e o nível de escolaridade.
No entanto, estes fatores estão também relacionados entre si e com outros relevantes. Por exemplo, a proporção de diplomados do ensino superior é maior nas gerações mais jovens e nas mulheres. Além disso, não é de menosprezar o papel do setor de atividade, uma vez que as restrições à atividade económica decorrentes do confinamento do segundo trimestre de 2020 e a abertura faseada ocorrida posteriormente, tiveram uma base de discriminação setorial explícita, com mais entraves à mobilidade e à abertura dos serviços de proximidade.
Tendo em conta fatores demográficos e os setores de atividade, o que influencia mais o risco de ficar desempregado e a probabilidade de voltar a encontrar emprego? E como é que a pandemia afetou a importância destes fatores?
O RISCO DE FICAR DESEMPREGADO AUMENTOU E A PROBABILIDADE DE ENCONTRAR EMPREGO DIMINUIU PARA TODOS
A pandemia diminuiu os fluxos de transição para o emprego para quem estava desempregado e aumentou principalmente o risco de ficar desempregado.
Antes da pandemia, ou seja, entre o início de 2018 e o primeiro trimestre de 2020, o risco de perder o emprego foi de 1,9%, valor que subiu para 2,5% nos três trimestres de 2020, correspondentes ao período da pandemia.
O RISCO DE DESEMPREGO AUMENTOU PARA TODOS OS GRUPOS ANALISADOS
O risco de desemprego subiu para todos os grupos demográficos (idade, sexo e nível de escolaridade) e setores de atividade, à exceção de quem trabalhava no setor ‘Eletricidade, gás, vapor, água e gestão de resíduos’. Para quem se encontrava desempregado, a probabilidade de encontrar emprego diminuiu de 29,2% antes da pandemia para 24,6% no pós-pandemia. Também neste caso, a queda na probabilidade de encontrar emprego foi generalizada, com exceção para quem trabalhava nos setores da ‘Construção’ e ‘Atividades de saúde humana e apoio social’ antes de cair no desemprego.
MAS O NÍVEL DE ESCOLARIDADE IMPORTA
Os trabalhadores com ensino superior apresentam sempre uma menor probabilidade de ficarem em situação de desemprego, quando comparados com indivíduos com a mesma idade, sexo e setor de atividade.
O risco de desemprego trimestral para os indivíduos diplomados foi o que menos cresceu no período da pandemia, passando de 1,4% para 1,9%. Já os trabalhadores menos escolarizados (com o ensino básico) permanecem como aqueles para quem o risco de desemprego é maior, não só nos trimestres anteriores à pandemia, como também nos três últimos trimestres de 2020, correspondentes ao período da pandemia.
Mesmo numa situação de desemprego, um diploma de ensino superior é uma vantagem, nomeadamente quando comparado com os que concluíram o ensino secundário. Apesar da sua situação ter piorado relativamente ao período anterior à pandemia (para valores próximos dos que têm apenas o ensino básico), a diferença de probabilidade de saírem da situação de desemprego dos diplomados com ensino superior aumentou face aos que detinham o ensino secundário.
Probabilidade de ficar desempregado e probabilidade de encontrar emprego antes e durante a pandemia por nível de escolaridade
FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN1
IDADE E SETORES DE ATIVIDADE ESPECÍFICOS PARECEM SER OS FATORES DETERMINANTES PARA FICAR DESEMPREGADO
Os principais fatores que mais determinam o risco de perder o emprego são os mesmos antes e durante a pandemia: ser mais jovem (25-34 anos), ter concluído apenas o ensino básico e trabalhar em alguns setores de atividade específicos, nomeadamente ‘Alojamento, restauração e similares’, que se tornou o setor com risco mais elevado, substituindo o setor da ‘Agricultura, produção animal, caça, florestas, pescas e indústrias extrativas’. Este último mantém-se como um setor de elevado risco, à semelhança de outros como ‘Outras atividades de serviços’ e ‘Atividades administrativas e dos serviços de apoio’. Ter entre os 25 e os 34 anos é, durante a pandemia, o segundo maior fator de risco no que diz respeito a ficar desempregado.
Probabilidade de ficar desempregado antes e durante a pandemia por características demográficas, nível de escolaridade e setor de atividade
FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN2
PARA OS DESEMPREGADOS, ENCONTRAR EMPREGO DEPENDE EM GRANDE MEDIDA DO SETOR DE ATIVIDADE
Há menos sobreposição antes e durante a pandemia nos fatores que mais influenciam a probabilidade de, estando desempregado, encontrar emprego. Em ambos os períodos, há fatores comuns como ter mais de 55 anos e ter trabalhado em setores de atividade específicos: ‘Atividades de informação e comunicação’, ‘Atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares’, ‘Indústrias transformadoras’ e ‘Comércio a grosso e a retalho; reparação de veículos’.
Com a pandemia, surgem outros fatores mais fortemente associados à dificuldade de voltar a encontrar emprego, como ter o ensino secundário e ter trabalhado nos setores de ‘Atividades administrativas e dos serviços de apoio’ e ‘Transportes e armazenagem’.
Probabilidade de encontrar emprego antes e durante a pandemia por características demográficas e setores de atividade
FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN3
1CADA BARRA TRADUZ A PROBABILIDADE RESULTANTE DE UM MODELO DE PROBABILIDADE LINEAR PARA CADA TIPO DE TRANSIÇÃO QUE INCLUI UM CONJUNTO DE VARIÁVEIS EXPLICATIVAS. VER ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFORMAÇÃO.
2CADA VALOR TRADUZ A PROBABILIDADE DE FICAR DESEMPREGADO RESULTANTE DE UM MODELO DE PROBABILIDADE LINEAR QUE INCLUI UM CONJUNTO DE VARIÁVEIS EXPLICATIVAS. VER ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFORMAÇÃO.
3CADA VALOR TRADUZ A PROBABILIDADE DE ENCONTRAR EMPREGO RESULTANTE DE UM MODELO DE PROBABILIDADE LINEAR QUE INCLUÍ UM CONJUNTO DE VARIÁVEIS EXPLICATIVAS.VER ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFORMAÇÃO.
Este insight faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” que pode ser consultado aqui.