Quase 1 em cada 4 jovens com ensino superior trabalha em profissões que não exigem o seu nível de escolaridade
São cada vez mais os jovens com ensino superior
O nível de qualificações entre os mais jovens em Portugal cresceu consideravelmente nos últimos anos. De acordo com os dados do Eurostat, a percentagem de jovens entre 25 e 34 anos com ensino superior completo aumentou de 27,5% em 2011 para 44,4% em 2022, ou seja, em 11 anos, verificou-se um aumento de 16,9 pontos percentuais.
Tal crescimento fez com que, em 2022, a proporção de jovens com ensino superior em Portugal fosse superior à média europeia (42%).
Percentagem de Jovens (25-34 anos) com Ensino Superior em Portugal e UE-27
FONTE: EUROSTAT, INE(INQUÉRITO AO EMPREGO), FJN/BRIGHTER FUTURE
Em média, níveis de escolaridade mais elevados estão associados a vantagens no mercado de trabalho, como maior taxa de emprego, emprego de melhor qualidade e salários superiores. Contudo, para uma parte significativa dos mais qualificados existe um desajustamento entre as suas qualificações e a ocupação que desempenham, um fenómeno comumente designado por «sobrequalificação». Nestes casos, os trabalhadores têm qualificações superiores às necessárias ao exercício da sua profissão.
O que é a sobrequalificação?
Considera-se que um trabalhador é sobrequalificado se tiver qualificações acima das que são consideradas necessárias ou solicitadas para o exercício da sua profissão.
Neste Insight consideram-se os jovens dos 25 aos 34 anos uma vez que, nesta faixa etária, se espera que a educação de base já tenha terminado e que tenham menos experiência profissional, existindo por isso uma maior ligação entre o nível de escolaridade e a profissão que ocupam.
Existem diferentes formas de medir este desajustamento entre educação e emprego. Uma delas é a percentagem de trabalhadores que tenham completado um grau do ensino superior, mas trabalhem em profissões que, à partida, não requerem esse grau de escolaridade.
Essas profissões, de acordo com a Classificação Portuguesa de Profissões, inserem-se nas seguintes categorias:
· Pessoal administrativo (CITP 4)
· Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores (CITP 5)
· Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, pesca e floresta (CITP 6)
· Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices (CITP 7)
· Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores de montagem (CITP 8)
· Trabalhadores não qualificados (CITP 9)
A sobrequalificação entre os mais jovens aumentou em 2022
Entre 2013 e 2018, a taxa de sobrequalificação entre os jovens trabalhadores aumentou paulatinamente dos 17,1% para os 22,9%, ou seja, em 2018, quase um em cada quatro jovens com ensino superior estava a exercer funções numa ocupação que, à partida, não exigia qualificações superiores.
No período subsequente, de 2018 a 2021, verificou-se uma redução nesta proporção dos 22,9% para os 19,9%. Não obstante, em 2022, a tendência de decréscimo inverteu-se, com a taxa de jovens qualificados a aumentar 2,5 pontos percentuais, situando-se, nesse ano, nos 22,4%.
Para qualquer um dos anos analisados, a sobrequalificação foi sempre superior nas mulheres (24,1% em 2022) do que nos homens (19,9% em 2022). A esta constatação não será alheio o facto que a proporção de mulheres jovens com ensino superior ter sido sempre superior à dos homens na última década. Por exemplo, em 2022, a percentagem de mulheres dos 25 aos 34 anos com ensino superior foi de 51,9%, 15 pontos percentuais acima dos homens (36,9%).
Verifica-se, deste modo, uma correlação positiva entre níveis de educação mais elevados e o aumento da sobrequalificação. Apesar da maior qualificação dos jovens, o mercado de trabalho não os absorve em ocupações adequadas às suas qualificações. Este desajustamento repercute-se na qualidade do emprego dos jovens trabalhadores, quer a nível salarial como na evolução das suas carreiras profissionais.
Taxa de Sobrequalificação dos Jovens (25-34 anos) Trabalhadores
FONTE: INE (INQUÉRITO AO EMPREGO),FJN/BRIGHTER FUTURE
Porquê analisar a sobrequalificação?
A sobrequalificação sinaliza que o mercado de trabalho não está a absorver ou não tem necessidade das competências adquiridas por parte dos diplomados, com implicações negativas a diferentes níveis.
De facto, a sobrequalificação está normalmente associada a uma penalização salarial, ou seja, os trabalhadores sobrequalificados têm tendência a receber menos do que os trabalhadores com as mesmas qualificações que trabalham em profissões adequadas ao seu nível de escolaridade. Além disso, também há evidência que trabalhadores sobrequalificados têm menores níveis de satisfação com o trabalho e menos oportunidades de formação e de progresso na carreira.
Assim, este fenómeno traduz-se numa enorme perda de retorno do investimento individual e nacional feito em educação, com consequente subaproveitamento e depreciação das competências recentemente adquiridas, limitando o potencial de progresso do talento nacional.
Nota Metodológica:
Na elaboração do presente Insight recorreu-se aos dados do Inquérito ao Emprego facultados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e dados do Eurostat, ambos tratados pela Fundação José Neves.