Durante a pandemia, a antiguidade média dos trabalhadores em empresas voltou a aumentar
ANTIGUIDADE DOS TRABALHADORES NAS EMPRESAS: EM QUE CONSISTE E PORQUE É RELEVANTE?
A antiguidade dos trabalhadores nas empresas não é mais do que o número de anos que estes prestam serviço na mesma empresa.
É uma vantagem para os trabalhadores, mas também para as empresas, uma vez que, maior antiguidade na empresa está normalmente associada a benefícios para ambas as partes.
Para os trabalhadores, estar entre os mais seniores da empresa tem alguns privilégios, tais como um salário médio mais elevado, horários preferenciais, maiores oportunidades de permanecer e de crescer dentro da empresa. Adicionalmente, de acordo com as regras de compensações por cessação do contrato de trabalho, os trabalhadores com maior antiguidade estarão mais salvaguardados em tempos de recessão económica e em caso de lay-off.
Para as empresas, os trabalhadores com maior antiguidade poderão ser recursos muito valiosos, uma vez que ao longo dos anos foram desenvolvendo capital humano do setor de atividade e da própria empresa, tornando-os um recurso essencial para a formação e a passagem de conhecimento e experiência aos trabalhadores mais juniores.
Apesar destes benefícios indiscutíveis, a antiguidade dos trabalhadores pode também impedir a inovação e crescimento das empresas, considerando as alterações do mercado de trabalho, registadas nos últimos anos. O elevado ritmo do progresso tecnológico pode tornar as competências dos mais seniores obsoletas, ao passo que os mais jovens podem trazer para a empresa competências mais atuais e valorizadas por organizações que querem crescer e inovar. Um sistema de formação contínua dos trabalhadores pode ser essencial para conjugar a experiência dos mais seniores com a capacidade de adaptação às mudanças e às novas tecnologias.
Graças ao inquérito que o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) faz anualmente a todas as empresas com pelo menos um trabalhador por conta de outrem (Quadros de Pessoal), é possível ter informação detalhada sobre o emprego e a antiguidade dos trabalhadores nas empresas.
COMO TEM EVOLUÍDO A ANTIGUIDADE MÉDIA DOS TRABALHADORES EM PORTUGAL?
Em 2019, os trabalhadores trabalhavam, em média, há 7,1 anos na mesma empresa, um valor bastante similar ao registado em 2010 e em 2018 (7,2 anos). Contudo, entre 2010 e 2019, a antiguidade média variou substancialmente, aumentando entre 2010 e 2013 – ano em que registou o maior valor (8 anos), e diminuindo consecutivamente entre 2013 e 2019. Em 2020 – um ano marcado pelo início da pandemia – a tendência decrescente, que se tinha vindo a verificar após 2013, inverteu-se, com a antiguidade média a aumentar para 7,4 anos.
Esta evolução da antiguidade média acompanha a evolução da economia e do mercado de trabalho. De facto, em períodos de expansão, há criação de emprego e um aumento do número de trabalhadores a iniciar uma relação laboral com empresas, o que estatisticamente diminui a antiguidade média da força de trabalho. Em contraste, em períodos de recessão e de queda de emprego, os trabalhadores em situação mais precária, com contratos a termo, que se encontram há menos tempo nas empresas, são, tipicamente, os primeiros a perderem o emprego.
De facto, entre 2013 e 2019, a antiguidade média dos trabalhadores caiu sistematicamente, ao mesmo tempo que o número de trabalhadores em empresas aumentou 21,7%. Já nos períodos de contração do mercado de trabalho, a antiguidade média aumentou, quer entre 2010 e 2013, com a crise financeira, quer com a crise pandémica, em 2020, ano em que o emprego diminuiu 1% face ao ano anterior.
Evolução da antiguidade média dos trabalhadores em empresas (em anos) e do número de trabalhadores entre 2010 e 2020
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1
EXISTEM DIFERENÇAS NA EVOLUÇÃO DA ANTIGUIDADE A NÍVEL REGIONAL?
As tendências verificadas em termos agregados também se verificaram em todas as regiões do território português:
- A antiguidade média aumentou entre 2010 e 2013 em todas as regiões, especialmente nas ilhas (Açores e Madeira).
- A antiguidade reduziu entre 2013 e 2019 em todas as regiões, com destaque para o Algarve e para a Área Metropolitana de Lisboa.
Entre 2019 e 2020, a antiguidade aumentou em todas as regiões de Portugal, com exceção do Alentejo, que foi a única região com aumento de trabalhadores no mesmo período. O aumento foi mais acentuado no Algarve, que foi também a região com a maior redução de trabalhadores em 2020, face ao ano anterior (-9,9%).
Em 2020, nos Açores e na Madeira, a antiguidade média dos trabalhadores foi superior a 8,5 anos. No polo oposto, figurou a região do Algarve, com a antiguidade média a situar-se nos 5,8 anos. Os valores bastante mais baixos do Algarve não são, certamente, alheios à composição do emprego da região, designadamente à maior prevalência de contratos a termo, e ao maior peso do emprego em atividades sazonais, como no setor do ‘Alojamento e restauração’.
Para as restantes regiões, a antiguidade média dos trabalhadores oscilou entre os 6,9 e os 7,9 anos.
Evolução da antiguidade média dos trabalhadores em empresas entre 2010 e 2020 por região (em anos)
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1
A ANTIGUIDADE FLUTUA MAIS NOS TRABALHADORES MAIS JOVENS
Não é surpreendente que a antiguidade média aumente com a idade dos trabalhadores e que o sentido das variações seja igual para todas as faixas etárias: para todos os grupos etários, a antiguidade média em 2019 foi inferior à de 2010, e a de 2020 foi superior à de 2019.
Mais curioso é o facto de as maiores variações da antiguidade, positivas ou negativas, se registarem entre os mais jovens, confirmando que estas faixas etárias são as mais afetadas pelas flutuações do ciclo económico e do mercado de trabalho. De facto, para os trabalhadores entre os 15 e os 24 anos, e entre os 25 e os 34 anos, a antiguidade média diminui 46% e 29%, entre 2010 e 2019, respetivamente. Para os trabalhadores mais velhos, a variação não chegou aos 7%. Entre 2019 e 2020, o maior aumento da antiguidade média verificou-se nos trabalhadores mais jovens, entre os 15 e 24 anos, tendo aumentado 29%, de 0,7 para 0,9 anos.
Antiguidade média dos trabalhadores em empresas em 2010, 2019 e 2020 por faixa etária (em anos)
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1
QUAIS SÃO OS SETORES DE ATIVIDADE COM MAIOR E MENOR ANTIGUIDADE MÉDIA DOS TRABALHADORES?
Em 2020, os setores de atividade onde os trabalhadores permaneceram, em média, mais anos nas empresas foram os seguintes:
- Fabrico de coque e de produtos petrolíferos refinados: 18 anos
- Eletricidade, gás, vapor, água e ar: 17,9 anos
- Atividades financeiras e de seguros: 13,8 anos
- Telecomunicações, atividades de comunicação e edição: 12 anos
Em contraste, nos seguintes setores de atividade, a antiguidade média não passou dos 5 anos:
- Atividades de aluguer, de emprego, agências e operadores turísticos: 1,5 anos
- Serviços de informação e atividades informáticas: 3,6 anos
- Atividades de segurança privada e de apoio a empresas: 4,3 anos
- Alojamento e restauração: 4,8 anos
A estas diferenças não será alheia a estrutura etária e o tipo de contratos mais comuns em cada setor de atividade.
Top Setores com maior e menor antiguidade média dos trabalhadores em empresas em 2020
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1
QUAIS AS PROFISSÕES COM MAIOR E COM MENOR ANTIGUIDADE MÉDIA DOS TRABALHADORES?
A média de anos de antiguidade dos trabalhadores varia substancialmente entre profissões, sendo superior a 18 anos nas seguintes:
- Diretores de sucursais de bancos, serviços financeiros e de seguros
- Maquinistas de locomotivas e similares
- Controladores de tráfego aéreo e de segurança de sistemas eletrónicos aeronáuticos
- Especialistas em políticas da administração
- Carteiros e similares
- Caixas bancários, penhoristas e similares
Para qualquer uma das profissões que constam no Brighter Future supramencionadas, a idade média dos trabalhadores nestas profissões foi, em 2020, superior a 44 anos.
Por outro lado, há profissões em que a antiguidade média não chegou, em 2020, aos 3 anos:
- Atletas e desportistas de competição
- Empregados dos centros de chamadas
- Treinadores, instrutores e árbitros de desportos
- Trabalhadores qualificados da aquicultura e das pescas
- Agentes imobiliários e gestores de propriedades
Com exceção dos Trabalhadores qualificados da aquicultura e das pescas, a idade média dos trabalhadores com estas profissões foi inferior 36 anos no ano de 2020.
Top Profissões BF com maior e menor antiguidade média dos trabalhadores em empresas em 2020
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1
1SÃO CONSIDERADOS OS TRABALHADORES POR CONTA DE OUTREM EM EMPRESAS DO SETOR PRIVADO E DO SETOR EMPRESARIAL DO ESTADO.
Este insight tem por base dados de 2020. Existe um insight com dados mais antigos. Clica aqui e compara a informação.