A educação é o melhor plano para o crescimento económico

O título não foi escolhido ao acaso. A educação - e não a escola - é o melhor plano  para o crescimento económico de que Portugal precisa para se afirmar num mundo cada vez mais competitivo. Arrumada a pandemia, ainda com resquícios, mas já sem os impactos que nos suspenderam as vidas em 2020 e 2021, é tempo de voltarmos o foco para o crescimento económico global.

Não pode haver distribuição de riqueza sem crescimento económico. Não há crescimentoeconómico sem empresas pujantes e fortes. E não há empresas sem trabalhadores, motivados, qualificados e em permanente processo de formação. É por essa razão que falo de educação, e não da escola. Temos de garantir que todos - quer sejam jovens, adolescentes, jovens adultos ou trabalhadores já no ativo - tenham formação contínua ao longo da vida profissional, de forma a que possam atualizar conhecimentos, desenvolver capacidades, enfrentar novos desafios profissionais que se colocam com a nova era digital.

Temos de ser ágeis se quisermos ter vantagem competitiva e não perder o barco.

Com as novas tecnologias disponíveis e com a produção e os negócios a
serem transformados tão rapidamente é nossa responsabilidade retirar vantagens e usar a tecnologia para impactar a forma como ensinamos e desenvolvemos talentos para atender às necessidades deste novo mundo.

A educação é realmente uma missão crítica se quisermos superar esta crise e
garantir que ofereçamos um futuro melhor para os nossos filhos, melhor do que aquele que nos foi dado. O trabalho remoto é agora uma realidade para muitas empresas globais, o que vai permitir que as pessoas se movam e vivam em diferentes regiões do mundo. Muitos setores industrializados como os da integração de serviços em nuvem, automação e logística da cadeia de suprimentos, viram-se forçados a inovar para acomodar esta nova realidade de
trabalho remoto. Embora estas mudanças tenham resultado na extensão de alguns empregos a verdade é que também deram origem a novos postos de trabalho, novas profissões, cidadãos com competências para preencher novas necessidades.


As empresas globais, independentemente onde esteja a sua base física ou fiscal, não vão continuar a contratar com base nos currículos académicos, mas sim com base nas chamadas soft skills. Trabalhadores com capacidade de aprendizagem, atitude positiva no trabalho de equipa e capazes de resolver problemas com criatividade vão continuar a ser os mais requisitados.

O mundo do emprego no futuro vai exigir aquilo que chamo “especialistas com conhecimentos gerais”, pessoas com cultura e conhecimento geral, que demonstram vontade e capacidade de estar sempre a aprender e que encontram de uma forma rápida e criativa soluções para os desafios que o dia a dia vai colocando.

Temos que garantir que esta economia digital não exclua os nossos alunos. O modelo de ensino que existe não é, hoje, a forma adequada para preparar futuros profissionais. A nossa missão passa por fazer com que nenhum deles se sinta excluído do futuro digital. A solução está em reestruturar o modelo educacional que é imposto aos jovens que frequentam «a escola», bem como a todos os outros nas diversas fases da vida. O futuro deverá ser uma mistura de novos modelos de educação, formação e requalificação de pessoas em idade ativa. Não seremos capazes desta mudança estrutural e de paradigma só com
intervenções cirúrgicas e experimentais. É preciso que haja liderança e apoio dos privados e do governo para acelerar o processo.


Também teremos que repensar a ideia de que todos têm que ter um diploma universitário. Muitos terão que adquirir competências digitais, capacidade de trabalho em equipa e outros terão que fazer formações. Precisamos de alunos com formação média, cursos profissionais que vão de encontro aos pedidos de emprego. Estes cursos podem ser criados por grandes empresas ou empregadores que desesperam por trabalhadores e novos talentos. Era importante que os alunos, ao concluírem o ensino médio, já tivessem alguma
experiência prática em alguma área, que pudessem depois usar para um estágio que desse origem a um emprego, ou a uma candidatura ao ensino superior.


Quem emprega precisa de milhões de trabalhadores com novas competências, know-how em colaboração e atitude na aprendizagem ao longo da vida. Estes trabalhadores serão menos acomodados e menos ansiosos porque sabem que se adaptam facilmente às mudanças. Os países que converterem mais rapidamente seus modelos educacionais serão os mais beneficiados, pois o talento pode operar a partir de qualquer lugar. Segurança cibernética, serviços em nuvem, programação, serviços criativos, consultoria, IA e milhares de outras
oportunidades de trabalho desconhecidas dependerão da nossa capacidade de abraçar e adaptar as mudanças necessárias para criar novos modelos educacionais. Temos que criar bolsas de estudo para obter certificados de aprendizagem que qualifiquem os jovens para que consigam ter, mais cedo ou mais tarde, bons empregos.


Ainda há espaço e necessidade de cursos superiores de três ou de cinco anos, mas deve haver maior aceitação para certificações e outros programas educacionais voltados para o trabalho. Precisamos de mais pessoas a aprender mais habilidades e também a estarem mais recetivas para a requalificação, quando necessário, se quisermos competir no mundo global.

O futuro é, tem de ser, de todos. E não apenas de uns predestinados, selecionados ou sobredotados. Esta é a hora de ter coragem para aceitar os novos desafios que a sociedade nos impõe.

Tim Vieira, fundador da Brave Generation Academy

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