A mobilidade dos trabalhadores entre profissões tem vindo a crescer nos últimos anos

A mobilidade no emprego, nomeadamente a mobilidade entre diferentes profissões, é uma temática cada vez mais relevante no panorama de um mercado de trabalho em transformação. Nos dias de hoje, e cada vez mais no futuro, a capacidade dos trabalhadores se adaptarem a novos contextos laborais e profissões é fundamental para manterem as suas perspetivas futuras de emprego e para progredirem nas suas carreiras profissionais.

O que sabemos sobre a mobilidade entre profissões em Portugal?

Em que tipo de profissões tende a haver mais e menos trabalhadores a mudarem de profissão?

Para responder a estas perguntas, analisa-se a mobilidade entre profissões com base no inquérito anual às empresas efetuado pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (GEP/MTSS).

A metodologia utilizada assenta na análise da mobilidade entre profissões verificando, para cada profissão do Brighter Future, se a profissão que o pessoal ao serviço desempenhava num determinado ano é a mesma ou diferente da que desempenhava dois anos depois. A análise foca-se, deste modo, apenas no pessoal ao serviço que se encontra na base de dados nos dois períodos temporais.

QUE PERCENTAGEM DE TRABALHADORES MUDA DE PROFISSÃO?

Os dados mais recentes indicam que, em 2019, 1 em cada 6 trabalhadores (16,4%) estavam numa profissão diferente da que estavam dois anos antes, em 2017. A grande maioria do pessoal ao serviço em empresas – 83,6% – manteve a mesma profissão. Isto não impede que possam ter mudado de empresa ou transitado entre profissões mais detalhadas dentro da profissão do Brighter Future. Por exemplo, um ‘Programador de software’, pode ter sido um Analista de Programação em 2017 e um Designer de Programas em 2019, ambas profissões detalhadas que fazem parte da profissão ‘Programador de Software’.

A percentagem de trabalhadores que muda de profissões tem variado ao longo da última década e, de um modo geral, parece acompanhar o ciclo económico. Em tempos de recessão económica e incerteza, há menos criação de emprego e os próprios trabalhadores tendem a correr menos riscos no mercado de trabalho.

Entre 2010 e 2013, houve uma queda da proporção de pessoas ao serviço que mudaram de profissão dois anos depois: de 15,5% em 2010 para 11,9% em 2013. Desse ano em diante, a mobilidade entre profissões aumentou paulatinamente situando-se, em 2017, num nível superior ao registado em 2010, antes da crise financeira.

Proporção do Pessoal ao serviço com uma profissão diferente 2 anos depois

FONTE: FJN/BRIGHTER FUTURE, QUADROS DE PESSOAL.1

EM QUE TIPO DE OCUPAÇÕES HÁ MAIOR E MENOR MOBILIDADE ENTRE PROFISSÕES?

O nível de mobilidade entre profissões pode variar consoante a complexidade e o nível de competências requeridas pelas profissões. Para aferir este ponto, recorre-se à Classificação Portuguesa das Profissões que divide as profissões em 9 grupos de acordo com o nível de competências e educação que se espera dos trabalhadores.

Estes dados revelam que os maiores níveis de mobilidade se encontram no grupo dos ‘Trabalhadores não qualificados’ que agrega as profissões menos qualificadas e que exigem um baixo nível de competências. Este é também o grupo ocupacional que regista a maior percentagem dos trabalhadores com contrato temporário (49%) e que tem um menor salário médio, fatores que podem explicar que 1 em cada 4 trabalhadores destas profissões esteja numa profissão diferente após 2 anos. Neste grupo ocupacional, 24% dos trabalhadores estavam, em 2019, numa profissão diferente da que ocupavam em 2017. Entre os que mudaram de profissão, 80% tiveram uma mobilidade ascendente uma vez que passaram a ter uma profissão num grupo profissional mais qualificado (CPP 8 ou menor).

Os menores níveis de mobilidade entre profissões são registados em grupos ocupacionais de competências muito distintas:

_por um lado, nos ‘Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices’ (12,7%) e ‘Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores de montagem’ (12,5%), ambos grupos ocupacionais de competências intermédias.

_por outro lado, nos grupos ocupacionais mais qualificados com profissões de topo de carreira: ‘Especialistas das atividades intelectuais e científicas’ (13,3%) e os ‘Representantes do poder legislativo e de orgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos’ (14,5%).

Proporção do pessoal ao serviço em 2017 que mudou de profissão em 2019 por grandes grupos ocupacionais

FONTE: FJN/BRIGHTER FUTURE, QUADROS DE PESSOAL.1

QUAIS AS PROFISSÕES DO BRIGHTER FUTURE COM MAIS MOBILIDADE?

Em termos agregados, a proporção de pessoas ao serviço que mudaram de profissão entre 2017 e 2019 foi de 16,4%. Mas há algumas profissões em esse valor é muito superior. Nas profissões seguintes, mais do que 30% dos seus profissionais em 2017 tinham outra profissão em 2019:

_Trabalhadores de profissões elementares não especificadas

_ Especialista de redes informáticas

_ Operador de central telefónica

_ Auxiliar de enfermagem

_ Empregado dos centros de chamadas

_ Pessoal de receção e de informação a clientes

_ Programador Web e de multimédia

_ Operador de instalações e máquinas, do fabrico de produtos químicos e fotográficos

_ Analista e programador de software e aplicações

_ Programador de aplicações

_ Trabalhador não qualificado da indústria extrativa e construção

A generalidade das profissões com maior mobilidade podem ser classificadas em dois grupos:

_profissões com salários médios mais baixos, que não exigem uma formação específica e com perspetivas de evolução da carreira mais escassas;

_profissões que têm em comum uma forte componente tecnológica e cujo emprego aumentou substancialmente nos últimos anos.

QUAIS AS PROFISSÕES DO BRIGHTER FUTURE COM MENOR MOBILIDADE?

No polo oposto, encontram-se profissões onde a transição para outras profissões é extremamente baixa. Nas profissões seguintes, a proporção de pessoas ao serviço que mudaram de profissão entre 2017 e 2019 foi inferior a 4,5%:

_ Piloto de aeronaves

_ Enfermeiro

_ Médico

_ Maquinista de locomotivas e similares

_ Educador de infância

_ Médico dentista e estomatologista

_ Professor dos ensinos universitário e superior

_ Instrutor de condução

_ Fisioterapeuta

_ Professor dos ensinos básico (2º e 3º ciclos) e secundário

Em geral, estas profissões têm salários superiores à média, requerem qualificações elevadas e competências muito específicas. Algumas delas são profissões de topo de carreira, pelo que a possibilidade de progredir na carreira é mais limitada (por exemplo: Médico, Piloto de Aeronaves, Enfermeiro).

1CONSIDERA-SE APENAS O PESSOAL AO SERVIÇO QUE SE ENCONTRA NA BASE DE DADOS NUM DETERMINADO ANO E DOIS ANOS DEPOIS. SÃO CONSIDERADAS AS PESSOAS AO SERVIÇO EM EMPRESAS DO SETOR PRIVADO E DO SETOR EMPRESARIAL DO ESTADO. OS TRABALHADORES INDEPENDENTES, DE SERVIÇO DOMÉSTICO E DO SETOR PÚBLICO ADMINISTRATIVO NÃO INTEGRAM OS DADOS ORIGINAIS.
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