As qualificações dos portugueses: um choque de gerações que ainda coloca o país na cauda da Europa
CERCA DE METADE DOS ADULTOS PORTUGUESES NÃO CONCLUIU O ENSINO SECUNDÁRIO
Portugal apresenta uma população significativamente menos escolarizada do que a generalidade dos países europeus. Em 2019, eram quase 50% os portugueses dos 25 aos 64 anos que não tinham o ensino secundário completo.
Portugal partilhava essa posição com outros países do Sul da Europa (Malta, Espanha e Itália) mas de forma mais extrema, tendo a pior prestação entre os países da União Europeia. A percentagem de baixas qualificações na Grécia, por exemplo, era inferior a 25% - valor próximo da média União Europeia - e chegava a ser inferior a 10% em países como a Finlândia e em países do leste europeu como a Letónia, a República Checa, a Polónia, a Eslováquia e a Estónia.
Adultos por nível de escolaridade e país, 2019
FONTE: EUROSTAT, FJN1
POUCO MAIS DO QUE 25% DOS ADULTOS PORTUGUESES COMPLETOU O ENSINO SUPERIOR
Nas qualificações mais elevadas, Portugal aparece melhor posicionado. A evolução na última década foi muito positiva, na ordem dos 10 pontos percentuais, mas Portugal continua a ser um dos países com menor percentagem de adultos com ensino superior.
Em 2019, apenas cerca de 1 em cada 4 portugueses entre os 25 e os 64 anos tinha completado o ensino superior (26,3%). Mesmo que Portugal continue a ser um dos países com pior desempenho neste indicador, a diferença para os países do sul europeu é menos significativa do que no caso do ensino secundário. Portugal, tal como a Espanha ou a Irlanda, caracteriza-se por uma aceleração relativamente rápida dos níveis de ensino superior, reflexo da generalização de percursos de ensino mais avançados entre os mais jovens. Ainda assim, os níveis deste nível de ensino na população ativa em Portugal são baixos quando comparados com países como a Irlanda, o Luxemburgo e a Finlândia, que contam com mais de 45% da população ativa com o ensino superior.
População residente por nível de escolaridade e faixa etária
FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN2
Apesar deste défice, Portugal assistiu a uma melhoria substancial dos índices de qualificações da população na última década. Em 2011, 65,6% dos adultos (25-64 anos) tinham no máximo o ensino básico, valor que diminui para os 44,6% em 2020. Esta queda foi acompanhada pelo aumento muito semelhante da população com o ensino secundário ou superior. O aumento de 2011 para 2020, foi de 17,3% para 27,2% no caso do ensino secundário, e de 17,1% para 28,2% em 2020.
O avanço foi mais pronunciado nas faixas mais jovens (25-34 anos). Em 2011, cerca de 44% não tinha concluído o ensino secundário, valor que baixou para os 21% em 2020. Entre 2011 e 2020, a percentagem de jovens entre os 25 e os 34 anos que concluíram o ensino secundário ou pós-secundário e o ensino superior acelerou em 8,9 e 14,5 pontos percentuais, respetivamente.
É entre os jovens em idade ativa (25-34 anos) que o crescimento do nível de educação é mais visível, efeito do alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos ou conclusão do ensino secundário, implementado em 2009.
RESULTADO: UM FORTE GAP INTER-GERACIONAL
O resultado da massificação do ensino secundário e do ensino superior entre os mais jovens, aliado ao histórico défice de qualificações da sua população ativa, faz com que Portugal seja o país da União Europeia com diferenças inter-geracionais mais fortes nos níveis de qualificações da sua população ativa.
Em Portugal, a percentagem dos jovens (25-34 anos) e dos adultos mais velhos (35-64 anos) com pelo menos o ensino secundário completo era, em 2019, de 75,2% e 46,5%, respetivamente - uma diferença de 28,7 pontos percentuais. Na média da União Europeia, as qualificações de ambos os grupos são mais elevadas e mais próximas entre si (84,5% para os jovens e 76,6% para os mais velhos), com um hiato de apenas 7,9 pontos percentuais.
População residente com pelo menos o ensino secundário completo por faixa etária e diferença entre as faixas etárias por país, 2019
FONTE: EUROSTAT, FJN3
Esta grande diferença inter-geracional em Portugal poderá ser responsável por desafios à integração dos mais jovens no mercado de trabalho, relacionados por exemplo com os níveis de qualificação das chefias. 46% dos empregadores portugueses tem no máximo o 9º de escolaridade, o valor mais alto de todos os países europeus. Esta falta de qualificações dos empregadores tem implicações na resposta às constantes alterações do mundo do trabalho, como na adoção de novas tecnologias ou formas de organização do trabalho. Neste sentido, é natural que os fortes défices educativos que caracterizaram Portugal no passado continuem a ter efeitos no presente e no futuro.
1ADULTOS DOS 25 AOS 64 ANOS. VER AQUI ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFORMAÇÃO SOBRE OS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE.
2FAIXAS ETÁRIAS: ADULTOS (25-64 ANOS) E JOVENS ADULTOS (25-34 ANOS). VER AQUI ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFORMAÇÃO SOBRE OS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE.
3FAIXAS ETÁRIAS: 35-64 ANOS E JOVENS ADULTOS (25-34 ANOS). A DIFERENÇA ENTRE FAIXAS ETÁRIAS CORRESPONDE À DIFERENÇA ENTRE O VALOR DOS JOVENS ADULTOS E DOS ADULTOS (35-64 ANOS). VER AQUI ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFORMAÇÃO.
Este insight faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” que pode consultado na íntegra aqui.