2020 aumentou o risco de desemprego dos recém-diplomados do ensino superior
O ano de 2020 ficou inevitavelmente marcado pela crise pandémica e pelo seu impacto a nível económico e social.
A crise sanitária teve efeitos no mercado de trabalho, principalmente entre os mais jovens que, tradicionalmente, estão entre os mais vulneráveis nos ciclos económicos recessivos.
Estes períodos são ainda mais desafiantes entre os jovens que terminam um grau de ensino e pretendem entrar no mercado de trabalho pois, tipicamente, não têm experiência profissional e concorrem com grupos de jovens trabalhadores mais experientes e com mais competências profissionais.
Importa, portanto, olhar para o desemprego de recém-licenciados do ensino superior, que permite aferir a facilidade ou dificuldade da sua entrada no mercado de trabalho e tem como base os recém-diplomados de licenciaturas (nos últimos quatro anos letivos) inscritos como desempregados junto do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).
Como tem evoluído este indicador desde 2014? Que tipos de ensino, áreas de formação e regiões apresentam maior e menor propensão ao desemprego? Este insight responde a estas perguntas.
2020 REVERTEU A TENDÊNCIA, AUMENTANDO O RISCO DE DESEMPREGO DOS RECÉM-DIPLOMADOS
A evolução deste indicador revela que no ano de 2020, marcado pela crise pandémica, a transição dos licenciados para o mercado de trabalho foi mais difícil. Comparando com 2019, a propensão ao desemprego dos recém-diplomados de cursos de licenciatura aumentou em 2020 em cerca de 1,6 pontos percentuais – de 3,7% em 2019 para 5,3% em 2020. Este aumento no risco de desemprego inverteu a tendência decrescente que se vinha a verificar desde 2014.
Propensão ao desemprego dos recém-diplomados
FONTE: IEFP, DGEEC, FJN/BRIGHTER FUTURE.1
UM AUMENTO EM TODOS OS TIPOS DE ENSINO, MAS MENOR PARA O ENSINO PÚBLICO UNIVERSITÁRIO
O aumento na propensão ao desemprego de recém-diplomados foi transversal aos diferentes tipos de ensino superior – público, privado, politécnico e universitário – embora com diferentes magnitudes.
Face a 2019, a propensão ao desemprego aumentou, em 2020, para todos os tipos de ensino pelo menos 1,3 pontos percentuais (p.p.). O aumento mais significativo registou-se no ensino privado, quer politécnico como universitário, com variações de 1,8 p.p. e 2,1 p.p., respetivamente.
Esta evolução faz com que o ensino superior privado universitário se mantenha, face a 2019, como o tipo de ensino com maior propensão ao desemprego em 2020 – 6,3%. De seguida, quer em 2019 quer em 2020, surge o ensino superior público politécnico com a segunda maior propensão ao desemprego – 5,7% em 2020.
Já a menor propensão ao desemprego verifica-se entre os recém-diplomados do ensino superior público universitário – 4,6% em 2020. Este é igualmente o tipo de ensino com o menor aumento da propensão ao desemprego.
Propensão ao desemprego (2019 e 2020) e variação da propensão ao desemprego entre 2019 e 2020 por tipo de ensino
FONTE: IEFP, DGEEC, FJN/BRIGHTER FUTURE.1
EM QUE REGIÕES OS RECÉM-DIPLOMADOS ENFRENTAM MAIOR RISCO DE DESEMPREGO?
Analisando a propensão ao desemprego dos recém-diplomados do ensino superior, e a sua evolução, ao nível da região das unidades orgânicas de ensino superior, verifica-se que há diferenças substanciais entre as diferentes regiões de Portugal continental.
Face a 2019, a propensão ao desemprego aumentou em 2020 para todas as regiões em pelo menos 1,2 pontos percentuais. As regiões que, em 2019, apresentavam os níveis mais baixos de propensão ao desemprego – Algarve e Área Metropolitana de Lisboa – foram as que registaram o maior aumento: 3,3 pontos percentuais no caso da região do Algarve e 2 pontos percentuais no caso da Área Metropolitana de Lisboa.
Apesar deste aumento, a Área Metropolitana de Lisboa continuou a ser a região de Portugal continental onde os recém-diplomados enfrentam menor risco de desemprego. Já na região do Algarve, o aumento superior a 3 pontos percentuais levou a que esta região passasse a ter a maior propensão ao desemprego em 2020. Neste ano, 6,7% dos estudantes que terminaram a licenciatura nesta região estavam inscritos como desempregados no IEFP. Em 2019, o Algarve era a segunda região com menor propensão ao desemprego dos recém-diplomados, passando a ser a região onde o problema é maior em 2020.
A região Norte que, em 2019, apresentava a maior propensão a desemprego, passou para a segunda posição, com cerca de 6,2% dos recém-diplomados desempregados.
Entre as regiões de Portugal continental, foi no Alentejo que se registou o menor aumento da propensão ao desemprego dos recém-diplomados entre 2019 e 2020 – 1,2 pontos percentuais.
Propensão ao desemprego em 2020 e variação da propensão ao desemprego entre 2019 e 2020 por região
FONTE: IEFP, DGEEC, FJN/BRIGHTER FUTURE.1
A propensão ao desemprego aumentou nos recém-diplomados de todas as áreas de formação
A propensão ao desemprego varia substancialmente entre os recém-diplomados das diferentes áreas de formação. Em 2020, havia diferenças na propensão ao desemprego na ordem dos 8 pontos percentuais.
As áreas de formação cujos recém-diplomados apresentaram uma maior propensão ao desemprego em 2020 foram:
_‘Serviços sociais’: 9,8%
_‘Serviços pessoais’: 8,9%
_’Informação e jornalismo’: 8,4%
Enquanto ‘Serviços sociais’ e ‘Informação e jornalismo’ já se encontravam entre as áreas com maior risco de desemprego em 2019, essa é uma nova realidade para ‘Serviços pessoais’. De facto, esta foi a área de formação que sofreu o maior aumento na propensão ao desemprego – de 3,8% em 2019 para 8,9% em 2020 – possivelmente justificado pelas medidas de diminuição da interação social em resultado da pandemia.
Outras áreas de formação com um forte aumento da propensão ao desemprego – superior a 2 pontos percentuais – foram: ‘Serviços de transportes’, ‘Humanidades’, ‘Artes’, ‘Informação e jornalismo’ e ‘Proteção do ambiente’.
No polo oposto, encontram-se áreas de formação com uma propensão ao desemprego dos recém-diplomados inferior a 2,5% no ano de 2020:
_Matemática e estatística: 1,8%
_Saúde: 2,1%
_Serviços de segurança: 2,2%
_Ciências da vida: 2,4%
Destas, destaca-se a área de formação da ‘Saúde’ como a que teve o menor aumento no risco de desemprego dos recém-diplomados, o que não será alheio à natureza da crise iniciada em 2020.
Propensão ao desemprego em 2020 e variação da propensão ao desemprego entre 2019 e 2020 por área de formação
FONTE: IEFP, DGEEC, FJN/BRIGHTER FUTURE.1
O QUE NOS DIZ E NÃO NOS DIZ ESTE INDICADOR?
Este indicador da taxa de desemprego dos recém-diplomados é baseado nos desempregados registados no IEFP, e portanto, pode ser influenciado pela propensão dos diplomados de diferentes áreas se inscreverem ou não no IEFP que poderá depender, por exemplo, da probabilidade de encontrarem emprego por esta via.
Além disso, este indicador não permite avaliar a qualidade do emprego dos restantes recém-diplomados que se encontram a trabalhar. Por outras palavras, os recém-diplomados podem ter empregos desadequados quer à área de formação como inclusive ao nível de ensino que acabaram de completar.