População portuguesa tem o maior défice de qualificações da União Europeia
A percentagem de adultos portugueses que não terminaram o ensino secundário (47,8%) é mais do dobro da média europeia (21,6%) e o valor mais baixo entre os países que compõem a União Europeia (gráfico). Portugal apresenta também o maior fosso inter-geracional nos níveis de qualificação da sua população ativa. 75,2% dos jovens adultos (dos 25 aos 34 anos) têm pelo menos o ensino secundário completo, mas nem metade dos adultos mais velhos (35 aos 64 anos) concluiu esse nível de ensino (apenas 46,5%). Na média da União Europeia esta diferença entre gerações é de 7,9 pontos percentuais, enquanto que em Portugal está nos 29 pontos percentuais, a maior diferença de todos os estados-membros (gráfico).
Mais educação protege o emprego mas salário médio dos jovens licenciados cai desde 2010
O salário médio real dos jovens licenciados caiu 17% entre 2010 e 2018, uma situação que acarreta o risco de um incumprimento das expectativas no valor da educação. Apesar da queda generalizada dos salários, mais educação garante emprego e melhores remunerações (gráfico). Os portugueses licenciados ganham, em média, mais 750 euros do que aqueles que só têm o ensino secundário (gráfico). Vantagens que são menos pronunciadas entre os mais jovens (gráfico).
Homens são menos qualificados mas ganham até 38% mais do que Mulheres
As mulheres são mais qualificadas do que os homens, mas a disparidade salarial continua a penalizá-las independentemente do nível de educação e área de estudo (gráfico). Em média, os homens licenciados ganham mais 38% do que as mulheres com o mesmo grau de ensino, o que também se verifica nos restantes níveis de escolaridade: mais 32% nos mestrados e mais 28% no ensino secundário. As qualificações de ambos melhoraram nos últimos anos, mas são as mulheres que têm maior propensão a prosseguir para o ensino superior.
Estas são algumas das conclusões do relatório “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal”, uma iniciativa da Fundação José Neves (FJN), produzida em conjunto com investigadores da Universidade do Minho e da Universidade de Aveiro, com base em dados do INE, do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e do Brighter Future, entre outras fontes.
Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal
O “Estado da Nação” é um relatório anual baseado em dados e investigação científica que pretende dar a conhecer o estado da arte da educação, do emprego e das competências em Portugal. A iniciativa cumpre com o objetivo da Fundação José Neves de contribuir para transformar Portugal numa sociedade do conhecimento através da educação alinhada com as necessidades do futuro.
Na sua primeira edição, o “Estado da Nação 2021” analisa a transformação destes indicadores em Portugal na última década e o impacto recente da pandemia Covid-19. O objetivo é abrir à discussão pública as debilidades e oportunidades do sistema de desenvolvimento de competências e formas de as ultrapassar.
“O ‘Estado da Nação’ é um contributo que a Fundação partilha com a sociedade portuguesa, na esperança de que possamos usar estes indicadores para identificar e superar os desafios que temos pela frente para tornar Portugal uma sociedade do conhecimento e elevar a posição do país no ranking do desenvolvimento humano”, sublinha José Neves.
Por sua vez, Carlos Oliveira, Presidente Executivo da FJN, destaca que “a informação do relatório permite a todos os Portugueses, e em particular aos agentes da educação, ao Governo, às instituições de ensino e à própria FJN, tomarem decisões sustentadas em factos e agirem de forma alinhada com aquelas que são as exigências de uma sociedade e de um mercado de trabalho em transformação acelerada”.
Outros destaques
Entre outros resultados, é possível perceber que os portugueses estão hoje mais qualificados, mas que existe desajustamento entre a educação e o mercado de trabalho. 19,4% dos jovens que terminaram recentemente o ensino superior não estão empregados e 15% dos diplomados está a trabalhar em ocupações que não exigem este nível de ensino.
É também possível verificar que em 2019 o emprego já tinha recuperado da crise financeira com início em 2010, mas com mudanças importantes no seu perfil: mais envelhecido, qualificado e concentrado em setores de alta tecnologia e conhecimento, principalmente no setor dos serviços. Como consequência, existem competências que estão a ganhar preponderância no mercado de trabalho, com destaque para a ‘Programação e Design de tecnologia’, ‘Interpretação científica-matemática’ e ‘Análise e Avaliação de sistemas’. Já as competências mais manuais e operacionais estão a perder terreno.
Relativamente ao impacto da pandemia, dados do relatório demonstram que a Covid-19 acelerou o potencial de desigualdade em termos de idades e qualificações. O emprego mais penalizado foi o dos jovens, dos menos qualificados e dos trabalhadores de alguns setores de atividade, como alojamento, restauração, agricultura e serviços administrativos. A pandemia veio relembrar e reforçar que mais educação protege o emprego e que os jovens são os mais vulneráveis em tempos de crise, por força da menor experiência profissional e de vínculos laborais menos estáveis.
Metas da Fundação José Neves
Perspetivando o futuro e o objetivo de tornar Portugal uma sociedade do conhecimento, entre outras metas, a Fundação José Neves ambiciona para 2040:
que os adultos (25 aos 64 anos) com baixa escolaridade sejam no máximo 15%, uma diminuição de 33 pontos percentuais face ao valor atual (47,8%);
que pelo menos 25% dos adultos participem em educação e formação (atualmente esse número está nos 10,5%);
que Portugal esteja nos 10 países da União Europeia com maior peso do emprego em setores tecnológicos e intensivos em conhecimento. Uma melhoria de 9 posições face ao ranking atual.