Cerca de metade dos trabalhadores em empresas tem apenas o ensino básico
Graças ao inquérito que o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) faz anualmente a todas as empresas com pelo menos um trabalhador por conta de outrem (Quadros de Pessoal), é possível ter informação detalhada sobre o emprego e salários das pessoas ao serviço nas empresas.
Os dados mais recentes, referentes ao ano de 2019, revelam que o salário real médio das pessoas ao serviço em empresas tem aumentado nos últimos anos e é, pela primeira vez, superior ao de 2010. O aumento tem sido mais pronunciado entre os mais jovens e os menos qualificados. Mas não há dúvidas que mais educação continua a compensar.
No Brighter Future podem ser consultados os salários médios reais associados a cada profissão por nível de escolaridade, género e setor de atividade, além da evolução salarial entre 2010 e 2019.
Neste insight, apresentam-se os principais destaques do indicador referente ao número de pessoas ao serviço em empresas.
EM 2019, O NÚMERO DE TRABALHADORES EM EMPRESAS ESTAVA EM MÁXIMOS DA DÉCADA
Os dados mais recentes do pessoal ao serviço em empresas, revelam que, em 2019, as pessoas ao serviço nas empresas continuaram a tendência de crescimento dos últimos anos. Face a 2018, este número aumentou em 1,8% mas, em termos cumulativos, as pessoas ao serviço aumentaram cerca de 22% em 2019 face a 2013, ano que marcou o início da recuperação do emprego no período pós crise financeira.
Evolução do Pessoal ao Serviço por Faixa Etária (valor de 2010 = 100)
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1
Esta evolução positiva do número das pessoas ao serviço em empresas não foi uniforme o que resultou em diferenças na composição do emprego nas empresas. O emprego no setor empresarial tornou-se mais envelhecido e qualificado.
AS EMPRESAS TÊM TRABALHADORES CADA VEZ MAIS VELHOS
A idade média dos trabalhadores do setor empresarial subiu de 38,7 anos em 2010, para 39,8 em 2013 e 40,7 anos em 2019. Comparando o final e o início da década, o emprego aumentou em todas faixas etárias – à exceção dos 25-34 anos – e o crescimento mais acentuado aconteceu nos mais velhos (55 ou mais anos) com um aumento de quase 60% entre 2010 e 2019. O grupo dos jovens adultos (25-34 anos) viu uma redução do pessoal ao serviço, em aproximadamente 11%, e portanto foi o único que não recuperou os níveis de emprego do período pré-crise financeira.
A variação do número de trabalhadores em empresas entre 2018 e 2019 foi positiva para todas as faixas etárias, em pelo menos 1,5%, exceto dos 35 aos 44 anos que reduziu cerca 0,6%. As faixas etárias dos mais jovens (15-24 anos) e o dos mais velhos (mais de 55 anos) foram as que registaram o maior crescimento de 4,2% e 5,2%, respetivamente.
Variação do Pessoal ao Serviço entre 2010-2019, 2015-2019 e 2018-2019 por Faixa Etária
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.2
CERCA DE METADE DOS TRABALHADORES AINDA TEM APENAS O ENSINO BÁSICO
Outra evolução notória prende-se com a qualificação dos trabalhadores do setor empresarial que também subiu consideravelmente na última década.
Entre 2010 e 2019 verificou-se uma queda de 13% no número de pessoas ao serviço sem o ensino secundário completo, por oposição ao volume de pessoas ao serviço com ensino secundário e superior, com um crescimento de 51% cada.
Apesar da redução dos trabalhadores com o nível mais baixo de qualificação, a proporção de pessoas ao serviço com ensino básico ainda representava, em 2019, cerca de 48% do pessoal ao serviço comparativamente aos 31% com ensino secundário e aos 21% com ensino superior.
Mas há diferenças entre gerações: em 2019, o ensino básico continuou a ser o nível de escolaridade mais comum para os grupos etários mais velhos (35-44 anos, 45-55 anos e 55 ou mais anos). Para os mais jovens (15-24 anos e 25-34 anos), o ensino secundário era o nível de escolaridade mais comum.
Evolução da Percentagem do Pessoal ao Serviço por nível de escolaridade, por faixa etária
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.3
HÁ CADA VEZ MAIS TRABALHADORES COM ENSINO SUPERIOR, SOBRETUDO ENTRE OS JOVENS
Apesar de a educação superior permanecer, em 2019, o grupo menos representativo no conjunto dos trabalhadores em empresas, a proporção das pessoas ao serviço com ensino superior aumentou 5,5 pontos percentuais entre 2010 e 2019 e situava-se nos 21,1% em 2019.
O maior crescimento verificou-se na faixa etária dos 35 aos 44 anos (variação de 10,1 pontos percentuais entre 2010 e 2019) com a proporção de pessoal ao serviço com ensino superior nesta faixa etária a situar-se, em 2019, nos 27%. O aumento da proporção de pessoas ao serviço com ensino superior também foi significativo na faixa etária dos 45 aos 54 anos: variação de 6,9 pontos percentuais.
O grupo das pessoas ao serviço com idade entre os 25 e 34 anos permaneceu como o grupo com a maior proporção de indivíduos com ensino superior: 30,1% em 2019. No polo oposto, a faixa etária dos mais velhos (55 ou mais anos) foi simultaneamente a que menos cresceu entre 2010 e 2019 (variação de 1,2 pontos percentuais) e a que registou a menor proporção de pessoas ao serviço com ensino superior: 9,7% em 2019.
MAS TAMBÉM MAIS TRABALHADORES EM PROFISSÕES ABAIXO DAS SUAS QUALIFICAÇÕES
Com o aumento do número de trabalhadores em empresas com qualificações superiores, aumentou também o número de trabalhadores sobrequalificados, ou seja, trabalhadores com qualificações acima das que são consideradas necessárias ao exercício da profissão que ocupam.
Este fenómeno de sobrequalificação já era considerável em 2010 (20%), mas aumentou cerca de 5 pontos percentuais em 2019 (25%). Ou seja, cerca de 1 em cada 4 trabalhadores em empresas tem mais qualificações do que as necessárias para a sua profissão. Este valor aumentou nos trabalhadores de todas as faixas etárias e continua a ter uma associação negativa com a idade: quanto mais jovens, maior a percentagem de trabalhadores sobrequalificados.
Em 2019, a taxa de sobrequalificação chegou aos 40% entre os trabalhadores com ensino superior entre os 15 e os 24 anos, 6 pontos percentuais acima do que em 2010. Todas as outras faixas etárias tiveram aumentos semelhantes ou superiores, inclusive a faixa etária mais velha (55 anos ou mais), que continua, em 2019, a ter menores taxas de sobrequalificados (11,3%).
Taxa de Sobrequalificação do Pessoal ao Serviço por faixa etária (2010, 2018 e 2019)
FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.4
A sobrequalificação sinaliza que o mercado de trabalho não está a absorver ou não tem necessidade das competências adquiridas por parte dos diplomados, com implicações negativas a diferentes níveis. Assim, este fenómeno traduz-se numa enorme perda de retorno do investimento individual e nacional feito em educação, com consequente subaproveitamento e depreciação das competências recentemente adquiridas, limitando o potencial de progresso do talento nacional.