O que nos dizem as ofertas de emprego durante 2021?

A análise da evolução das ofertas de emprego é um indicador relevante para perceber a resposta dos empregadores às diferentes fases dos ciclos económicos e, no caso particular dos anos de 2020 e 2021, às diferentes fases da crise pandémica.

A ofertas de emprego permitem não só perceber a dinâmica de procura pelo mercado de trabalho nos últimos anos, mas também analisar variações homólogas, ou seja, variações verificadas face ao mesmo período do ano anterior.

COMO EVOLUÍRAM AS OFERTAS DE EMPREGO DESDE O 1º TRIMESTRE DE 2020 ATÉ AO 4º TRIMESTRE DE 2021?

As ofertas de emprego têm tido uma forte oscilação durantes os anos de 2020 e 2021 justificada por variações sazonais, mas também pela situação pandémica e pelas medidas restritivas que condicionaram a atividade económica.

Os trimestres com menos procura por parte dos empregadores foram precisamente os que foram passados, pelo menos parcialmente, em confinamento e com medidas mais restritivas: o 2º trimestre de 2020 e o 1º trimestre de 2021. Face ao respetivo trimestre anterior, as ofertas de emprego no 2º trimestre de 2020 caíram 15% e as do 1º trimestre de 2021 caíram 26%.

De resto, o mês de abril de 2020 foi o que registou menos ofertas de emprego no conjunto dos dois anos, seguido de dezembro de 2020 e fevereiro de 2021.

Enquanto os níveis de oferta de emprego nestes dois trimestres mais restritivos foram muito semelhantes entre si, há diferenças substanciais na evolução registada nos trimestres seguintes. Por um lado, se no 3º trimestre de 2020 as ofertas de emprego mais do que duplicaram face ao trimestre anterior (123%), o aumento registado do 1ª para o 2º trimestre de 2021 foi muito mais contido (44%). Por outro lado, a subida em 2021 parece ter sido mais sustentada do que a de 2020, que não passou de um pico muito significativo. De facto, a volatilidade foi maior no ano de aparecimento da pandemia: os meses com o maior e menor volume de ofertas dos últimos anos foram ambos em 2020.

Esta evolução fez com que o total de ofertas de emprego em 2021 ficasse apenas 6% abaixo do registado em 2020. Infelizmente, os dados não permitem comparar a procura de emprego com a situação pré-COVID19.

Evolução trimestral e mensal das ofertas de emprego, 2020 e 2021 (1ºT de 2020 ou janeiro de 2020 =100)

FONTE: FJN/BRIGHTER FUTURE, BURNING GLASS1

HÁ DIFERENÇAS ENTRE PROFISSÕES MAIS E MENOS QUALIFICADAS?

As principais tendências de evolução das ofertas de emprego foram semelhantes entre os vários grupos profissionais, mas há diferenças na magnitude da diminuição e aumento ao longo dos anos analisados.

Não há dúvida que foi o grupo das profissões mais qualificadas o que menos sofreu com a pandemia em 2020: não só a queda no 2º trimestre de 2020 (-5%) foi menor do que as sofridas pelas profissões de qualificações intermédias (-25%) e mais baixas (-23%), como o aumento no 3º trimestre foi mais pronunciado para as profissões mais qualificadas. No último trimestre de 2020, apenas este grupo de profissões tinha um volume de ofertas de emprego superior ao registado no 1º trimestre do ano.

O menor impacto da pandemia nas ofertas de emprego das profissões mais qualificadas poderá dever-se à maior capacidade de adaptação ao novo contexto laboral derivado da crise pandémica, nomeadamente na maior possibilidade de desempenharem tarefas à distância e com recurso a tecnologias de comunicação e informação.

Já em 2021, os grupos de profissões com qualificações intermédias e mais baixas ganharam terreno e tiveram uma maior dinâmica de recuperação nos 2º e 3º trimestres do ano. No entanto, é de notar que foram as ofertas destas profissões que mais voltaram a cair no último trimestre de 2021, em pelo menos 14%.

Evolução trimestral das ofertas de emprego por grupo profissional, 2020 e 2021 (1ºT de 2020 =100)

FONTE: FJN/BRIGHTER FUTURE, BURNING GLASS2

QUAIS FORAM AS PROFISSÕES COM MAIOR VARIAÇÃO DE PROCURA ENTRE 2020 E 2021?

A maioria (59%) das profissões Brighter Future com expressão de procura em 2020 registaram um decréscimo de ofertas anuais em 2021, acompanhando a tendência geral.

Algumas profissões tiveram uma redução bastante expressiva no volume de ofertas entre 2020 e 2021. Para as seguintes, a queda foi superior a 40%:

  • Compositor, músico, cantor, bailarino e coreógrafo
  • Técnico de operação e controlo de processos industriais
  • Matemático, atuário, estaticista e demógrafo
  • Técnico operador das tecnologias de informação e comunicação (TIC)
  • Ator, apresentador, criativo e outros artistas
  • Farmacêutico

Em termos absolutos, a redução das ofertas foi mais significativa para as seguintes profissões ao reduzirem em mais de 800 ofertas em 2021 face ao volume de ofertas registado no ano anterior:

  • Programador de software
  • Representante comercial
  • Pessoal de informação administrativa
  • Empregado de aprovisionamento, armazém, de serviços de apoio à produção e transportes

Em contraciclo, estiveram profissões que, apesar da redução de 6% do volume de ofertas totais entre 2020 e 2021, registaram um crescimento no mesmo período superior a 40%:

  • Empregado de mesa e bar
  • Ajudante de cozinha e assistente na preparação de refeições
  • Diretor de recursos humanos
  • Estafeta, bagageiro e distribuidor
  • Cozinheiro

A profissão de ‘Empregado de mesa e bar’ foi a simultaneamente registou o maior aumento no volume de ofertas de emprego entre 2020 e 2021, quer em termos absolutos como relativo ao duplicar o volume de ofertas em 2021 face ao ano anterior.

1O ÍNDICE 100 É UMA NORMALIZAÇÃO DO NÚMERO GLOBAL DE OFERTAS DE EMPREGO NO 1º TRIMESTRE DE 2020 OU EM JANEIRO DE 2020.
2O ÍNDICE 100 É UMA NORMALIZAÇÃO DO NÚMERO GLOBAL DE OFERTAS DE EMPREGO NO 1º TRIMESTRE DE 2020. ‘PROF. MAIS QUALIFICADAS’: CORRESPONDEM ÀS PROFISSÕES QUE SE ENCONTRAM NA CPP (CLASSIFICAÇÃO PORTUGUESA DE PROFISSÕES) 1 A 3; ‘PROF. DE QUALIFICAÇÃO INTERMÉDIA’: PROFISSÕES DA CPP 4 A 8; ‘PROF. MENOS QUALIFICADAS’: PROFISSÕES DA CPP 9
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