Ofertas de emprego caíram nos dois confinamentos
As ofertas de emprego são um indicador informativo sobre a resposta dos empregadores às diferentes fases da crise pandémica. Estes dados para os meses de 2021 permitem não só perceber a dinâmica de procura pelo mercado de trabalho neste ano, mas também analisar variações homólogas, ou seja, variações verificadas face ao mesmo período de 2020.
COMO TÊM EVOLUÍDO AS OFERTAS DE EMPREGO DESDE JANEIRO DE 2020?
Entre janeiro de 2020 e maio de 2021, as ofertas de emprego têm tido uma forte variação associada à situação pandémica e às medidas restritivas que condicionaram a atividade económica.
Neste período, o mês com menos ofertas de emprego foi abril de 2020, correspondente ao aparecimento da pandemia e ao primeiro mês completo passado em confinamento. Nesse mês, as ofertas de emprego correspondem a 40% das ofertas de janeiro do mesmo ano.
Esta tendência negativa foi invertida logo em maio e até julho, com um aumento de ofertas consistente. Após setembro, seguiu-se uma forte quebra até dezembro, sendo este o segundo mês com menos ofertas em 2020 – mesmo assim com 45% mais ofertas do que em abril.
O primeiro mês de 2021 registou um aumento em 48% das ofertas de emprego face a dezembro de 2020, mas esta recuperação foi invertida com o novo confinamento geral. Em fevereiro de 2021, as ofertas voltaram a cair, para 27% das registadas no mês anterior (janeiro). Com o fim do confinamento, as ofertas recuperaram em março e abril e voltaram a cair ligeiramente em maio de 2021.
Evolução das ofertas de emprego entre janeiro de 2020 e maio de 2021 (janeiro 2020=100)
FONTE: FJN/BRIGHTER FUTURE1
COMPARAÇÃO ENTRE OS PRIMEIROS CINCO MESES DE 2021 E OS DE 2020
Além da comparação das ofertas de emprego ao longo do tempo, estes dados permitem comparar as ofertas de emprego em 2021 com 2020. Esta análise é particularmente interessante uma vez que os primeiros cinco meses de cada ano foram muito diferentes.
Por um lado, enquanto que em janeiro e fevereiro de 2020 ainda não existia pandemia, os mesmos meses de 2021 registaram a fase mais grave da pandemia e a declaração do segundo confinamento geral. A comparação destes dois períodos revela uma queda de 25% nas ofertas de emprego em 2021, que foi mais acentuada em fevereiro (37%) do que em janeiro (14%).
Por outro lado, enquanto que abril e maio de 2020 foram os primeiros meses durante a pandemia passados em confinamento, em 2021 estes meses foram marcados pela abertura após o segundo confinamento. Assim, as ofertas de emprego em abril e maio de 2021 foram quase o dobro das registadas nos mesmos meses de 2020 – um aumento de 95%. Este aumento nas ofertas deveu-se principalmente ao mês de abril, com um aumento de 217% face a abril de 2020.
Variação homóloga das ofertas de emprego nos primeiros meses de 2021 face aos mesmos meses de 2020
FONTE: FJN/BRIGHTER FUTURE
QUE PROFISSÕES REGISTARAM MAIOR QUEDA DE PROCURA EM JANEIRO E FEVEREIRO DE 2021?
As ofertas de emprego em janeiro e fevereiro de 2021 caíram 25% em comparação com o período homólogo de 2020. Esta queda não foi uniforme em todas as áreas, tendo sido mais acentuada (superior a 80%) em profissões pouco qualificadas e relacionadas sobretudo com o setor dos serviços:
- Cabeleireiro, esteticista e similares
- Cozinheiro
- Técnico de nível intermédio dos serviços jurídicos, sociais e religiosos
- Empregado de mesa e bar
- Motorista de automóveis ligeiros, de carrinhas e condutor de motociclos
- Compositor, músico, cantor, bailarino e coreógrafo
- Trabalhador qualificado em acabamentos da construção
HOUVE PROFISSÕES COM AUMENTO DE PROCURA EM JANEIRO E FEVEREIRO DE 2021?
Apesar da evolução negativa das ofertas em janeiro e fevereiro de 2021, foram várias as profissões com aumento de procura face ao período homólogo de 2020, com destaque para as que seguem abaixo e que revelam um aumento superior a 40%:
- Enfermeiro
- Especialista em relações públicas
- Diretor das indústrias transformadoras
- Engenheiro industrial e de produção
- Engenheiro biomédico, de engenhos explosivos, de salvamento marítimo, de materiais, ótico e de segurança
- Engenheiro eletrotécnico
- Técnico de gás, técnico da produção, agente de métodos e técnico de robótica
QUE PROFISSÕES REGISTARAM MAIOR AUMENTO DE PROCURA EM ABRIL DE 2021?
A diferença homóloga mais significativa nas ofertas de emprego registou-se no mês de abril. Em 2020 foi marcado pelo primeiro confinamento e em 2021 pelo alívio das medidas restritivas dos meses anteriores. As ofertas de emprego registadas no mês de abril de 2021 correspondem a três vezes mais do que as ofertas do mês de abril do ano anterior.
Este aumento foi particularmente evidente nas profissões que se seguem, cujas ofertas em abril de 2021 foram cinco vezes superiores às de abril de 2020:
- Engenheiro eletrónico
- Cozinheiro
- Trabalhador de profissões elementares não especificadas
- Programador de aplicações
- Administrativo e secretário especializado
- Técnico de gás, técnico da produção, agente de métodos e técnico de robótica
- Engenheiro civil
- Diretor de vendas e marketing
- Empregado de biblioteca, revisor de provas, escrivão de anúncios e de correspondência, classificador arquivista e empregado de serviço de pessoal
- Diretor de investigação e desenvolvimento
- Especialista em base de dados e redes
HOUVE PROFISSÕES EM CONTRACICLO EM ABRIL DE 2021?
Apesar das ofertas de abril de 2021 corresponderem a mais do triplo das ofertas de abril de 2020, algumas profissões registaram quebras na procura. Destacam-se as seguintes com um decréscimo superior a 20%:
- Carteiro e similares
- Farmacêutico
- Motorista de automóveis ligeiros, de carrinhas e condutor de motociclos
- Trabalhador de cuidados pessoais nos serviços de saúde
- Técnico de operação e controlo de processos industriais
- Trabalhador de limpeza
QUAIS SÃO AS PROFISSÕES MAIS PROCURADAS PELOS EMPREGADORES?
Apesar de todas estas oscilações verificadas ao longo dos meses e em relação a períodos homólogos, há um conjunto de profissões que se mantêm no top das mais procuradas pelos empregadores nos 3 meses analisados (janeiro, fevereiro e abril), quer em 2020 quer em 2021:
- Programador de software
- Técnico de apoio aos utilizadores das tecnologias da informação e comunicação (TIC)
- Operador de caixa e outros trabalhadores relacionados com vendas
- Analista de sistemas
Uma das exceções é a profissão ‘Representante comercial’, que saiu do top apenas em abril de 2020, na primeira fase da pandemia.
Já as profissões ‘Programador Web e de multimédia’ e ‘Trabalhador não qualificado da indústria transformadora’ estavam fora do top apenas em janeiro 2020, sugerindo que ganharam uma relevância permanente durante a pandemia.
OS DOIS CONFINAMENTOS E A AMEAÇA DE UMA NOVA VAGA
A análise da dinâmica de procura de trabalhadores por parte das empresas desde janeiro de 2020 revela que as ofertas de emprego caíram de forma significativa durante os dois períodos de confinamento, mas principalmente no primeiro. A redução do número de ofertas face aos meses anteriores foi superior no primeiro confinamento, entre março e abril de 2020 (-46%), do que a registada durante o segundo confinamento, entre janeiro e fevereiro de 2021 (-27%).
Estas diferenças podem dever-se a efeitos de sazonalidade, mas também à maior incerteza sobre a própria doença e às potenciais consequências em vários domínios no primeiro confinamento. No segundo confinamento, e apesar da maior incidência de casos, a incerteza foi menor e as empresas estavam melhor adaptadas às novas formas de trabalho.
No ano de 2020, os meses de verão registaram uma forte recuperação nas ofertas de emprego. Em 2021, esta recuperação é ameaçada pela queda registada já no mês de maio e pelo aumento de casos.