Em 2019, o salário médio voltou a ser superior ao de 2010

Graças ao inquérito que o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) faz anualmente a todas as empresas com pelo menos um trabalhador por conta de outrem (Quadros de Pessoal), é possível ter informação detalhada sobre o emprego e salários das pessoas ao serviço nas empresas.

Os dados mais recentes, referentes ao ano de 2019, revelam que o salário real médio das pessoas ao serviço em empresas tem aumentado nos últimos anos e é, pela primeira vez, superior ao de 2010.

O aumento tem sido mais pronunciado entre os mais jovens e os menos qualificados. Mas não há dúvidas que mais educação continua a compensar.

No Brighter Future podem ser consultados os salários médios reais associados a cada profissão por nível de escolaridade, género e setor de atividade, além da evolução salarial entre 2010 e 2019.

Neste Insight, apresentam-se os principais destaques do indicador do salário médio.

EM 2019, O SALÁRIO MÉDIO VOLTOU A SER PELA PRIMEIRA VEZ SUPERIOR AO DE 2010

Em 2019, o salário médio dos trabalhadores ao serviço nas empresas portuguesas foi de 1146€. Tendo em conta a evolução da inflação, este é o valor mais elevado desde 2010.

Depois da queda continuada dos salários reais entre 2010 e 2015 (redução de 5,4%) e da recuperação de 2016 em diante, 2019 foi o primeiro ano da última década onde o salário real médio foi superior ao de 2010. Ou seja, 2019 marca o ano em que pela primeira vez o salário médio foi superior ao salário registado no período anterior à crise financeira (+0,6%).

Neste período pós-2016, o maior crescimento salarial aconteceu entre 2018 e 2019. Só entre estes dois anos, o salário real médio aumentou 3,1%, ultrapassando o aumento de 2,2% verificado entre 2017 e 2018.

Evolução do Salário Médio Real

FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1

O CRESCIMENTO SALARIAL TEM SIDO MAIS PRONUNCIADO ENTRE OS JOVENS

Enquanto o aumento salarial entre 2018 e 2019 foi transversal a todas as faixas etárias, o mesmo não se pode dizer na comparação entre os salários de 2010 e 2019.

Entre 2018 e 2019, o crescimento salarial foi mais acentuado nas pessoas ao serviço mais jovens, nomeadamente o grupo etário dos 15 aos 24 anos (4,6%) e dos 25 aos 34 anos (4,4%). No polo oposto, o crescimento salarial na faixa etária dos mais velhos – 55 ou mais anos – foi mais contido (1%). Nas faixas etárias dos 35 aos 44 anos e dos 45 aos 54 anos o crescimento salarial foi de 3% e 3,1%, respetivamente.

A comparação entre os anos de 2010 e 2019 revela que foram também as pessoas ao serviço mais jovens as únicas cujo salário real médio foi, em 2019, superior ao verificado em 2010. Os trabalhadores mais jovens – dos 15 aos 24 anos – viram o seu salário real aumentar em 9,3%, o que corresponde a um aumento real na ordem dos 70€. O salário real médio dos adultos dos 25 aos 54 anos variou pouco (inferior a 1%), enquanto o salário real médio dos trabalhadores mais velhos caiu, com especial expressão nos trabalhadores acima dos 55 anos (-8,2%).

Evolução do Salário Médio Real por Faixa Etária

FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1

APENAS OS MENOS ESCOLARIZADOS GANHAM MAIS DO QUE 2010

Apesar de, em termos agregados, o salário médio real ter crescido cerca de 3,1% entre 2018 e 2019, verificaram-se algumas discrepâncias entre os diferentes níveis de escolaridade: o crescimento do salário foi mais acentuado nas pessoas ao serviço com um curso do pós-secundário (4,9%) e com mestrado (3,8%) e foi menor no caso das pessoas ao serviço com licenciatura (1,3%) e ensino secundário (1,8%). Já o salário real médio dos doutorados caiu em 0,5%.

Este aumento salarial verificado na maioria dos níveis de escolaridade entre 2018 e 2019 permitiu apenas diminuir a queda salarial que se tem vindo a registar desde 2010. Na maioria dos níveis de escolaridade houve perdas salariais reais entre 2010 e 2019, com especial expressão para os doutorados (-23%), os mestres (-19%) e os licenciados (-14%). A exceção foram os trabalhadores com o ensino básico que têm hoje um salário real médio acima do de 2010, o que se poderá dever ao aumento do salário mínimo nos últimos anos.

Variação do Salário Médio Real entre 2010-2019 e 2018-2019 por Nível de Escolaridade Completa

FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1

A situação é em tudo semelhante para os jovens adultos (25 aos 34 anos), que estão numa idade em que já terão terminado a sua educação de base. Também neste grupo, os únicos trabalhadores com ganhos salariais reais foram os que têm, no máximo, o ensino básico (3,6%). Para os restantes grupos, o salário real continua inferior ao de 2010, mas o hiato diminui face ao que se verificava em 2018. Por exemplo, enquanto em 2018 os licenciados ganhavam menos 17% do que em 2010, esse valor caiu para 15% em 2019. Para os mestres, os mesmos valores foram de 10% e 5%, respetivamente.

Evolução do Salário Médio Real por Nível de Escolaridade e Faixa Etária

FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1

MAIS EDUCAÇÃO CONTINUA A COMPENSAR

Apesar de os salários reais de 2019 estarem abaixo dos de 2010 na maioria dos níveis de ensino, mais educação continua a compensar em termos salariais.

Em 2019, completar níveis de escolaridade mais elevados do que o ensino secundário, que hoje em dia é obrigatório, continuam a compensar, em média, em termos salariais. Um curso do pós-secundário trazia, em 2019, um ganho salarial médio de 10%. Já completar uma licenciatura traz um ganho médio salarial de 72% em comparação com o ensino secundário e completar um mestrado tem um prémio salarial de 2% face a uma licenciatura.

Estes números gerais incluem todas as pessoas ao serviço em empresas, independentemente da sua idade. No entanto, há uma grande diferença nas qualificações das gerações mais jovens e mais velhas.

Importa por isso olhar em específico para uma faixa etária mais jovem, que terminou níveis de escolaridade mais recentemente – 25 aos 34 anos. E para estes, em 2019, a diferença salarial foi:

  • 13% entre quem tem um curso do pós-secundário e apenas completou o ensino secundário;
  • 42% entre os licenciados e quem fica apenas pelo ensino secundário;
  • 22% entre mestres e licenciados.

O ganho salarial de concluir uma licenciatura face a quem detém apenas o ensino secundário foi, em 2019, menor para a faixa etária dos 25 a 34 anos do que a generalidade do pessoal ao serviço: 42% vs. 72%. Em contraste, é mais vantajoso para o grupo dos mais jovens (25-34 anos) completarem o mestrado em vez comparativamente ao total das pessoas ao serviço.

Diferença salarial (%) entre diferentes níveis de escolaridade, Total e 25-34 anos

FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1

1 SALÁRIO MÉDIO BRUTO MENSAL (EQUIVALENTE A TEMPO COMPLETO) A PREÇOS CONSTANTES DE 2019. INCLUI REMUNERAÇÃO BASE E PRESTAÇÕES REGULARES. SÃO CONSIDERADOS OS SALÁRIOS DAS PESSOAS AO SERVIÇO EM EMPRESAS DO SETOR PRIVADO E DO SETOR EMPRESARIAL DO ESTADO.
Partilha este artigo_