A relação entre sono e sucesso profissional
_O sono influencia a atenção, perceção, memória, criatividade, tomada de decisão, resolução de problemas e tolerância à frustração – competências fundamentais para o sucesso académico e profissional.
_Nos dias de hoje, a capacidade de estar sempre “on” é muitas vezes lida por colaboradores e chefias como dedicação e disponibilidade. A longo prazo, os profissionais colocam-se em maior risco de doenças como diabetes, problemas cardíacos ou mentais.
_A qualidade do sono depende do nosso contexto (higiene de sono, rotinas), e de fatores internos (relaxamento, tranquilidade, ausência de dor e desconforto). Os sinais de alerta agravam-se após uma semana de sintomas, momento em que devemos ações para melhorar a qualidade do sono ou procurar ajuda.
Para a maioria das pessoas, o sucesso profissional está relacionado com o empenho, motivação, diligência, criatividade, audácia e resiliência. É comum negligenciarmos uma das maiores chaves para o sucesso: dormir bem, apesar de um colaborador com défice de sono custar até 2.700 € por ano em produtividade, às organizações.
A cronobiologia é uma área emergente que estuda o papel do sono no desenvolvimento humano, com potencial para mudar o paradigma laboral e a forma como gerimos as nossas rotinas escolares e profissionais. Tanto nos estudos como na prática profissional, a produtividade depende, em grande parte, da melhor utilização das nossas competências cognitivas nas quais o sono tem um importante papel.
O papel do sono na regeneração física e psicológica
O sono é um processo psicofisiológico complexo que tem múltiplas funções orgânicas. As principais visam a regeneração e recuperação do cérebro e corpo. O sono influencia a atenção, perceção, memória, aprendizagem, criatividade, tomada de decisão, resolução de problemas e tolerância à frustração.
Também tem impacto no sistema cardiovascular, metabólico e imunitário, sendo responsável pela recuperação da energia despendida durante o dia.
O sono assegura melhor produtividade e sucesso profissional
Muito do trabalho atual depende de múltiplos conhecimentos e o cérebro assume o papel principal. Seja nas escolas ou nas empresas, precisamos de usar as nossas funções cognitivas em pleno para corresponder às exigências e atingir os nossos objetivos. Precisamos de estar focados, motivados, atentos, ser criativos, ter boa memória, tomar decisões rápidas e adequadas, gerir bem as emoções e ter energia e vigor. Para tal, necessitamos de colocar o sono no topo das nossas prioridades.
Existem evidências científicas acerca da introdução de medidas individuais e organizacionais com vista à melhoria do sono e produtividade. Especificamente, há escolas e empresas que organizam os horários de acordo com a tendência biológica para se ser mais matutino ou vespertino. Como resultado, os alunos melhoram os desempenhos escolares e os trabalhadores experienciam maior satisfação pessoal e sucesso profissional.
Consequências de dormir pouco
O sono representa um papel vital para o nosso organismo no seu todo: um estudo recente mostra que quem dorme menos de 7 horas por dia tem o triplo do risco de ficar constipado, face aos colegas que dormem mais. Se dormirmos mal, isto é, com pouca qualidade ou pouca quantidade, o nosso cérebro e corpo não recuperam e entram em exaustão rapidamente. Isto acaba por afetar negativamente o sucesso profissional de qualquer trabalhador.
As pesquisas científicas mostram que as pessoas que têm um sono insuficiente apresentam maiores problemas de atenção e dificuldades em memorizar ou recuperar informação. Também se mostram mais lentas, com maior propensão para cometer erros e mais impulsivas. Além disto, a falta de sono aumenta significativamente o risco de doença mental (por exemplo, depressão).
Hoje sabemos que a falta de sono acarreta múltiplas consequências, nomeadamente uma maior predisposição a infeções, queixas físicas ou alterações emocionais.
A acumulação de noites mal dormidas
Se uma noite mal dormida não é desejável, também sabemos que não representa, por si só, um problema de maior. O principal problema é a privação crónica de sono, quando as noites de sono insuficiente se vão acumulando, noite após noite. A médio prazo, as consequências vão-se exacerbando, levando ao absentismo escolar ou à falta de sucesso profissional.
Diferentes estudos têm mostrado, consistentemente, que tanto adultos como adolescentes não dormem o suficiente. As recomendações apontam que os adultos deveriam dormir entre 7 a 9 horas e os jovens entre 8 a 10 horas. Também é possível que dormir menos do que o recomendado possa ser suficiente para algumas pessoas, mas isso é a exceção.
Trabalho por turnos entre os fatores que influenciam o sono
O ritmo de sono deve ser o mais certo possível. Isto significa que, idealmente, adormecíamos e acordávamos sempre às mesmas horas. Esta previsibilidade ajuda o nosso cérebro a reconhecer o momento adequado para adormecer e acordar.
No entanto, a nossa sociedade moderna exige atividade em permanência, 24 horas por dia. Isso implica que nem todas as pessoas durmam de noite ou tenham horas fixas para trabalhar e dormir. O trabalho por turnos é um dos principais fatores que perturba o sono nos adultos: se os turnos forem rotativos, o cérebro tem maior dificuldade em organizar-se para adormecer e assegurar um sono profundo e reparador.
Algumas recomendações para melhorar o sono
O sono não é um processo imediato e linear, depende de múltiplas condicionantes. Além das variáveis de contexto (higiene de sono, rotinas), também depende de fatores internos (relaxamento, tranquilidade, ausência de dor e desconforto). Se estivermos ansiosos o cérebro entra em hiperalerta e o sono demora a iniciar-se e fica mais superficial, portanto, a calma e relaxamento são fundamentais.
Outras estratégias recomendadas para melhorar a qualidade de sono incluem: manter uma rotina de sono, praticar exercício (de preferência de manhã), fazer uma boa alimentação (refeição leve à noite), evitar bebidas estimulantes, reduzir a utilização de tecnologias e assegurar um ambiente tranquilo e confortável.
Nos dias de hoje, a capacidade de estar sempre “on” é muitas vezes lida por colaboradores e chefias como dedicação e disponibilidade. Uma cultura de trabalho que, caso não seja complementada com formas de recuperação ativa, pode levar a perdas de produtividade, falta de atenção, empatia, criatividade e pouco sucesso profissional. A longo prazo, os profissionais colocam-se em maior risco de doenças como diabetes, problemas cardíacos ou mentais.
Os sinais de alerta agravam-se após uma semana de sintomas, momento em que devemos ações para melhorar a qualidade do sono ou procurar ajuda. Cabe às organizações e chefias alertar as suas equipas para a importância do tema, dar espaço à desconexão digital e criar condições de trabalho que promovam hábitos de sono saudáveis. Para empresas que trabalham por turnos ou em vários fusos horários, estas preocupações tornam-se ainda mais severas.
Numa altura em que todos procuramos um diferencial competitivo, pode dormir bem ser a mais simples forma de promover a criatividade nas organizações?