Como tem evoluído o emprego em Portugal?
Apesar da crise pandémica, o número de trabalhadores aumentou 0,7% entre 2020 e 2021.
Entre 2010 e 2019, o número de trabalhadores cresceu cerca de 11,5%, uma evolução que esconde duas tendências distintas: a queda do emprego entre 2010 e 2013 (-8,4%) seguida da recuperação do emprego que foi mais acentuada no período de 2015 e 2019, com um aumento do pessoal ao serviço em cerca de 14,8%.
Em 2020, ano marcado pelo início da crise pandémica, a tendência de crescimento registada de 2013 em diante inverteu-se, com o número de trabalhadores a reduzir cerca de 1% em comparação com 2019.
Apesar da pandemia, no ano seguinte, em 2021, os níveis de emprego recuperaram ligeiramente, com o número de trabalhadores a aumentar cerca de 0,7% entre 2020 e 2021. Não obstante, o volume de emprego em 2021 foi inferior ao registado em 2019: o número de trabalhadores em 2021 foi cerca 0,3% inferior ao registado em 2019, antes do início da crise pandémica.
Evolução do número de trabalhadores entre 2010 e 2021 (2010 = 100)
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), FJN/Brighter Future. (1)
A variação do emprego não foi homogénea entre os grupos profissionais
O crescimento do número de trabalhadores entre 2010 e 2019, a subsequente redução, em 2020, devido à crise pandémica e a ligeira recuperação do volume de emprego em 2021 não foi uniforme entre os diferentes grupos profissionais.
De facto, entre 2020 e 2021, o emprego cresceu sobretudo nos seguintes grupos profissionais:
· Especialistas das atividades intelectuais e científicas: 3,7%
· Trabalhadores não qualificados: 2,9%
· Técnicos e profissões de nível intermédio: 2,2%
No sentido inverso, os ‘Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta’ registaram uma queda bastante acentuada com o número de trabalhadores a decrescer cerca de 6,4% entre 2020 e2021. Também os seguintes grupos profissionais tiveram, no mesmo período, uma redução do emprego superior a 1%:
· Representantes do poder legislativo e de órgãos do poder executivo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos: -1,8%
· Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices: -1,2%
· Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem: -1,1%
As profissões mais qualificadas foram as menos afetadas pela crise pandémica
Os ‘Especialistas das atividades intelectuais e científicas’ e os ‘Técnicos e profissões de nível intermédio’ – grupos profissionais que, à partida, requerem trabalhadores com mais qualificações – foram os únicos cujo volume de emprego aumentou quer entre 2019 e 2020, no início da crise pandémica, como entre 2020 e 2021. De facto, o crescimento do emprego entre 2019 e 2021 nestes dois grupos profissionais foi de 7,4% e 4,7%,respetivamente.
A maior capacidade de digitalização destas profissões bem como a maior facilidade de uso de ferramentas como o trabalho remoto parece ter mitigado o impacto da crise pandémica no volume de emprego destes grupos profissionais.
No sentido inverso, os grupos de profissões menos qualificados associados sobretudo aos serviços pessoais e ao contacto com os clientes foram os mais afetados a nível do emprego, designadamente os ‘Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores’ cujo número de trabalhadores em 2021 ainda foi 5,2% inferior ao de 2019.
Variação do número de trabalhadores entre 2010-2021, 2010-2019, 2019-2020 e 2020-2021 por grupo profissional
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), FJN/Brighter Future. (1)
Nota Metodológica:
Na elaboração do presente Insight recorreu-se aos dados dos Quadros de Pessoal que resulta de um inquérito anual obrigatório a todas as empresas do setor privado e do setor empresarial do estado com pelo um trabalhador por conta de outrem e que está a cargo do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social(GEP/MTSSS), sendo que estes dados foram posteriormente tratados pela Fundação José Neves.
Os dados fornecidos pelas empresas no inquérito reportam ao mês de outubro de cada ano, pelo que não é possível captar eventuais oscilações que possam ter ocorrido ao longo do ano. Por exemplo, é possível que durante os primeiros meses tenha havido uma queda superior no emprego e que depois tenha havido uma recuperação acentuada até outubro de 2021.
(1) São consideradas as pessoas ao serviço em empresas do setor privado e do setor empresarial do estado. Os trabalhadores independentes, de serviço doméstico e do setor público administrativo não integram os dados originais.